tem qualquer coisa de dificil de tentar fazer sentido de the watermelon woman. toda a proposta do filme é trabalhar a partir da sua ausência central - a watermelon woman, uma mulher negra, lésbica e atriz de sucesso da hollywood classica - mas sempre em direção a essa mesma ausência, agora devolvida como invenção e, então, o reconhecimento da invenção. em conversa com meu namorado, ele me argumenta que o filme é interessante porque busca formalizar a experiência da cheryl como mulher negra, lésbica e diretora de cinema a partir dessa pura forma que é a watermelon woman; se isso é verdade, a inspiração em jogo na reconstrução/invenção biográfica daquela mulher ocorre nesse caleidoscópio de experiências que só pode se sustentar enquanto uma série de fragmentos da vida cotidiana, re-refletidos e reconhecidos como reflexão. a cena que mais dá conta desse complexo movimento - que, alias, por ser um jogo de espelhos refletidos, acaba retornando a uma simplicidade assustadora - está nas cenas em que Cheryl faz lipsyncs da fala da Watermelon Woman à sua miss: nesse momento, Cheryl é a diretora do filme que vemos, é a personagem Cheryl do próprio filme sendo em tela, é a personagem da Watermelon Woman e, ao interpretá-la, não é a Watermelon Woman (vide os 'erros' propositais da interpretação). mas esse não ser a Watermelon Woman só pode ser a partir dela, porque ela, sendo o original do qual se faz o lipsync, permanecesse na essência como o blueprint, como esta voz que organiza as possibilidades mesmas da interpretação. vale notar que o filme o tempo inteiro periga se desmontar: o documentário-ficção se nega o tempo inteiro como uma completude fechada e justamente por isso ele permite que a experiência mesma, a revelia das identidades em jogo, vaze pelos seus poros quase que sem querer, atravessadas pelas dinâmicas ora das relações mesmas das personagens, ora as dinâmicas de opressão social. várias cenas parecem revelar algo de cringe que não deveria ser gravado, tão natural que a gente quase esquece a quantidade de cortes que o filme tem... enfim, falei demais. wrapping it up, é uma experiência e tanto hahah