MUSSE, R. Os herdeiros do idealismo alemão. Trans/Form/Ação , São Paulo, v. 17, p. 31-37, 1994.
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<aside> 📜 Resumo Acompanha-se, aqui, a pertinência do lema de Engels, que concebe o marxismo como "herdeiro do idealismo alemão" nas teorias de Lukacs, Horkheimer e Adorno. Enquanto Lukács assenta o método marxista na vertente da filosofia hegeliana e Horkheimer assume explicitamente o legado kantiano, Adorno não se propõe a ser herdeiro, mas sim critico do idealismo alemão.
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História e consciência de classe, sob a égide de 'marxismo ortodoxo', é apresentado por Lukács como "uma explicação da doutrina de Marx no sentido de Marx" (1974, p. 8)
o projeto explícito ->
a primeira providência de Lukács, por conseguinte, é desmantelar a arquitetura morta do sistema,
**separando a dialética do seu arcabouço histórico**
em outras palavras: “… a tarefa consiste em proceder a uma discriminação entre as tendências múltiplas que se entrecruzam e que em parte se contradizem violentamente e de salvar, enquanto força intelectual viva para o presente, o que há de metodologicamente fecundo no seu pensamento”
as categorias desmembradas da filosofia de Hegel e a dialética cuidadosamente extraída do sistema atendem, no entanto, a um objetivo raramente expresso, diria até, a um projeto inconsciente. Transplantadas para a teoria de Marx visam unificar as ambiguidades e complementar os fundamentos filosóficos da obra de Marx.
o que o move: não é a constatação de que há toda uma série de categorias decisivas continuamente usadas por Marx e que provêm diretamente da Lógica de Hegel, mas sim a convicção de ter reencontrado o fio que permite, na interpretação da obra de Marx, “compreender o sistema e o método — tais como nos são dados — na sua unidade coerente e de preservar esta unidade.
Marx leva às últimas consequências a tendência histórica inscrita na filosofia de Hegel, recompondo a dialética segundo o ponto de vista da totalidade. (NOTA: rejeitando uma dialética da matéria, Lukács descreve a apropriação da dialética hegeliana por Marx de um modo diametralmente oposto ao modelo engelsiano de uma inversão que coloca de pé aquilo que se encontrava de cabeça para baixo. “Só em Marx a dialética hegeliana se tornou, segundo a expressão de Herzen, uma ‘álgebra da revolução’. Mas não se tornou tal simplesmente pela inversão materialista. Muito pelo contrário, o principio revolucionário da dialética hegeliana só pôde manifestar-se nesta e por esta inversão porque se salvaguardou a essência do método, isto é, o ponto de vista da totalidade ... a unidade do pensamento e da história")
Face "progressista", "núcleo revolucionário" da filosofia de Hegel, a dialética hegeliana e, portanto, incorporada integralmente pelo marxismo ortodoxo de Lukács. Porém, como não se trata de retornar a Hegel, mas de superá-lo, convém aplicar o método de Hegel inclusive ao seu sistema, reorientando a criação contra o criador.
apesar de conceber a dialética marxista como uma retomada da lógica hegeliana, o marxismo ortodoxo de Lukács não hesita em eleger a si próprio como medida adequada para julgar “historicamente” a verdade da filosofia de Hegel